terça-feira, 27 de setembro de 2011
Urso Cinzento
Qual será o tempo certo para desligar o pensamento? O Urso Cinzento foi um tanto quanto inconveniente ao me mostrar a janela da vida, porém, uma janela fechada, uma janela horrenda, e seria horrenda por completa se não fosse a sua pequena parte quebrada por onde entrava uma fresta de luz. Era apenas uma rachadura, uma doce quebra em meio a horrível harmonia da janela. Poderia passar horas admirando o pouco da vida que podia enxergar por aquela fresta, e inevitavelmente me questionava o quão grandioso seria olhar por inteiro toda essa vida. Olhar o sol, a chuva, a noite, as nuvens, a lua, olha tudo, tudo que por direito são de todos. Tudo diante dos meus olhos. Mas sem nenhum aviso o Urso Cinzento partiu com a chave da janela, e ficou meses sem dar as caras. Nesse tempo, meu único desejo era olhar toda a vida que estava atrás daquela madeira podre. Já havia olhado a vida por outras janelas, mas nenhuma me era tão interessante quanto essa, exclusivamente essa. Após seu retorno, o Urso Cinzento não justificou o motivo de sua saída, apenas revelou pequenos detalhes dessa temporada em que esteve fora. Depois de alguma conversa entediante, voltamos para a janela, e para a minha surpresa, Urso Cinzento não quis abri-la. Não, foi apenas isso que pude ler com a resposta disparada pelo seu olhar. Pude enfim perceber, que a vida atrás da janela era indiscutivelmente bela, mas o lado de cá era indiscutivelmente podre, e a chave que o Urso Cinzento possuía nunca conseguiria abrir aquela janela. Seus desejos eram mesquinhos o suficiente para não faze-lo perceber o que estava atrás da janela que ele mesmo guardava. Coitado do Urso Cinzento. Sua janela era apenas podre e cheia de bolor. Tinha sorte por ter raios de luz.
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Eu não sei bem o que aconteceu comigo, os olhos marejaram lendo isso. Nem vou estender o comentário.
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